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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Governo prevê, dois anos antes, aval do Ibama a megausina

Comentários/opinião
É óbvio que qualquer empreendimento tem de ter a priori um planejamento adequado. E quanto maior, tanto mais completo e perfeito deve ser o seu planejamento. Até aí, nada de mais. Todavia, o que precede qualquer plano executivo é a definição da necessidade, do objetivo, das razões e do custo x benefício da “coisa”. E, nos empreendimentos públicos, acrescente-se a resposta a uma pergunta que raramente é feita: a quem serve, ou seja, quem se apropria dos resultados da “coisa”.
No caso abaixo, para que não seja uma decisão extremamente autoritária e absolutista, tem de ser esclarecido se não existem interesses subalternos e sub-reptícios envolvidos, bem como compromissos de naturezas criticáveis. Em outras palavras, tem de haver transparência total e absoluta.
A matéria foi divulgada no IHU Noticias de 18-02-2012.

Mesmo sem saber como conseguirá a licença ambiental, o governo já marcou para dezembro de 2013 o leilão da quarta maior usina hidrelétrica do país, a de São Luiz do Tapajós, no Pará.
A reportagem é de Cláudio Angelo e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 18-02-2012.
Slides de apresentação do MME (Ministério de Minas e Energia), obtidos pela Folha, mostram que todas as etapas para o licenciamento foram estimadas desde 2011 - inclusive a expedição da licença prévia pelo Ibama.
Com 7.880 megawatts estimados de potência instalada, São Luiz será maior que Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, somadas.
Será também uma das obras de maior complexidade ambiental do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), pois exigirá a redução de quatro unidades de conservação numa zona prioritária para a biodiversidade.
Juntas, as quatro áreas protegidas perderiam para o lago da usina uma área equivalente a quase um terço da cidade de São Paulo.
No mesmo mês, o Ibama expediu o termo de referência, conjunto de parâmetros para elaboração do estudo de impacto ambiental da usina, que inicia o licenciamento.
A apresentação do MME mostra que houve uma discussão sobre a melhor maneira de reduzir os parques.
Segundo os slides, o Ministério do Meio Ambiente estudou uma proposta de projeto de lei, "no sentido de minimizar possíveis desgastes [de imagem] para o governo".
Para não comprometer o cronograma da obra, porém, decidiu-se fazer a redução das áreas protegidas via MP.
O ato foi contestado no STF (Supremo Tribunal Federal) na semana passada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Segundo ele, redefinir limites de unidades de conservação por MP é inconstitucional. As áreas são de "extrema relevância" para o bioma Amazônia, disse.
Se acatada pelo STF, a ação interromperá todo o processo de licenciamento.
Ambientalistas criticam o planejamento do setor elétrico. "[O governo] determina um cronograma para viabilizar o leilão com data marcada, restando a Funai Ibama cumprir com as tarefas para que isso aconteça", disse Brent Millikan, coordenador da ONG International Rivers Network no Brasil. O MME não se manifestou.