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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Pontos e contra-pontos II: engenheiros, previsão de enchentes, sementes crioulas

Comentários/opinião
Vejam que as três matérias anexadas a seguir têm algumas fortes correlações interpretativas.
A priori, seria de se perguntar: quando o professor Leal Lobo foi reitor da USP, o que teria feito para mudar as situações que critica? Ele, com certeza, diria que teve de seguir a política ditada pelo MEC. É apenas assim, mesmo? Quem tem os posicionamentos como os que estão colocados – com os quais estou inteiramente de acordo – e sendo reitor da poderosa USP, nada pode fazer a respeito?
Todavia, a análise do ex-reitor, está perfeita e “põe o dedo nas feridas”. As quais, também em meu entendimento, estão na base das dificuldades vigentes. Contudo, existem outras causas, certamente mais fundamentais, ainda, tais como a mercantilização do ensino no Brasil; a importação de “caixas pretas” (com a consequente transformação dos técnicos nacionais em “apertadores de botões e parafusos”); a facilitação para ganhos absurdos de capital nacional e internacional, dentre outras. O tema é vastíssimo.
Por outro lado, as duas matérias subsequentes dão exemplos da competência e da criatividade do nosso povo que, mesmo soterradas sob as camadas tectônicas dos interesses da ganância a qualquer custo e preço, continuam a assomar, aqui, ali e acolá.
O que precisa ser feito – mas tenho fortes desconfianças que não o será – é dar mais força e estímulo para as competências e criatividades emergirem. E dar condições adequadas para tal, é óbvio!
'Precisamos de engenheiros inovadores'
O diagnóstico de que o desenvolvimento do Brasil exige mais engenheiros já virou consenso. O País está sendo obrigado a importar pessoal qualificado, porque forma por ano cerca de 40 mil profissionais, ante 190 mil na Rússia, 220 mil na Índia e 650 mil na China, para ficar só com os Brics, o bloco dos países emergentes. Interlocutor do governo num plano para atacar a questão, o ex-reitor da Universidade de São Paulo Roberto Leal Lobo acredita que é preciso trabalhar em outra frente além da quantitativa: mudar currículos e acabar com a especialização precoce, definida ainda antes no vestibular. Para ele, o profissional do futuro precisa ter visão genérica, combinar técnica e ciência para criar inovação, gerar patentes. "Nosso engenheiro não é criado para a inovação, mas para a reprodução."
A entrevista é de Sérgio Pompeu e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-02-2012.
Eis a entrevista.
O senhor escreveu recentemente um artigo (veja em estadão.com.br/educação) no qual critica a especialização precoce dos engenheiros. Qual o perfil do engenheiro do futuro?
É uma pessoa com boa formação básica, porque alguém com esse perfil aprende qualquer coisa, com uma visão genérica da Engenharia, no sentido de cobrir todas as áreas, e uma visão de mercado, para que saiba como utilizar conhecimento para atender às necessidades da sociedade. É uma exigência mundial. É o que pede, por exemplo, a National Science Foundation americana.
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Brasileiro desenvolve método rápido para prever enchentes
Um novo método criado por um cientista brasileiro torna mais rápido, simples e barato identificar áreas com risco de enchentes, deslizamentos e outros desastres naturais. O sistema pode ser usado para prevenir as tragédias que se acumulam no período de chuva no país.
A reportagem é de Giuliana Miranda e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 20-02-2012.
Enquanto as metodologias consagradas hoje em dia precisam que os pesquisadores visitem os locais e tenham um mapeamento detalhado das topografias, o que em geral custa muito caro, o novo projeto pode ser feito à distância e com bem menos requisitos.
Batizado de Hand (sigla em inglês para altura acima da drenagem mais próxima), ele é um modelo digital de terreno que, para identificar as áreas de risco, precisa apenas de uma imagem da topografia da região - capturada por radar ou laser - e de informações sobre os rios do entorno.
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Sementes Crioulas Avançam em Alagoas
O agricultor Sebastião Damasceno, de Santana do Ipanema, se transformou num dos símbolos do movimento chamado em Alagoas de “Sementes da Resistência”. Ele participa de praticamente todos os encontros de agricultores familiares, feiras e exposições exibindo uma coleção de sementes crioulas que inclui desde variedades mais comuns de feijão e milho plantadas em Alagoas, até raridades como variedades de algodão e fava que praticamente não são mais cultivadas no Estado. Por onde passa, ele explica que as sementes que carrega, além de adaptadas às condições de clima e solo do Estado, fazem parte das culturas e tradições dos agricultores alagoanos.
A reportagem é do jornal Gazeta de Alagoas, 03-02-2012 e reproduzidada pelo boletim da AS-PTA.
Mas engana-se quem pensa que Damasceno participa de um movimento “romântico” ou saudosista. Ao contrário. Os produtores querem na verdade é melhorar de vida e de renda com a seleção e plantio das próprias sementes. E estão conseguindo avanços importantes. Este ano, pela primeira vez na história, os gastos públicos com a aquisição de sementes crioulas vão superar os gastos com a compra de sementes comerciais.

"Será que o bicho está pegando na Europa?"

Comentários/opinião
Na Europa, parece que o “bicho está pegando”, conforme destaque do editorial da Carta Maior de hoje, 20-02-2012, e de várias matérias de jornais do mundo, como é o exemplo logo abaixo, divulgado pelo IHU Notícias, também de hoje.
Entretanto, aqui no nosso Brasil carnavalesco, parece que o povo apenas se diverte vendo a banda e a caravana passarem e o tempo correr. “Numa boa”.
Será que aqui não tem crise nem se corre o risco de ter? Será que todo o mundo está feliz e satisfeito e de bem com a vida? E, bem assim, com o tanto de circo e o pouco de pão que lhe é oferecido?
Entendo que há diferenças fundamentais e destaco apenas duas. Uma, corresponde aos níveis, bem diferentes, de acomodação da nossa sociedade e das sociedades européias quando seus interesses não estão sendo satisfeitos adequadamente. Outra, corresponde aos níveis de submissão das organizações sociais (partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais etc) aos padrões impostos pelos poderes econômico e governamentais.
ARRIBA, ESPANHA!
“Maré humana toma conta das ruas de Madrid, Barcelona e de dezenas de outras cidades espanholas neste domingo.  Trabalhadores aderem em massa ao protesto convocado pelas centrais sindicais contra a reforma laboral do governo Rajoy. Perto de completar dois meses de mandato, o PP tenta fazer todo o mal de uma vez e enfileira o arrocho contra os trabalhadores na sequência de um draconiano corte de gastos fiscais. A austeridade trouxe, por exemplo, um efeito desconcertante na esfera da saúde pública: de um lado, filas que só fazem crescer; de outro, alas inteiras de hospitais fechadas com leitos ociosos, por medida de economia. A revista 'Nature' denuncia, ainda,o "suicídio científico espanhol", fruto dos cortes de gastos que incentivam a debandada de pesquisadores para o exterior. A reforma laboral que levou 500 mil às ruas de Madrid ,outros 400 mil em Barcelona, barateia a demissão e autoriza a redução unilateral de salários pelos  patrões. A relevancia desse cabo de guerra  extrapola as fronteiras do país.  A economia espanhola é  a pinguela frágil que interliga nações  pobres e ricas no interior do quebra-cabeças do euro.  Se o arrocho fracassar aí pela pressão das ruas, abre-se um avenida de bandeiras comuns para a unificação dos protestos na UE, mudando a relação de forças na Europa e a agenda da crise em todo o mundo.
Deputados viram reféns cercados por manifestantes e líderes da UE
Um enorme aparato de segurança cerca a sede do Parlamento Helênico, o núcleo do poder político da Grécia, no centro de Atenas. O efetivo da polícia serve para desestimular tentativas de invasão por manifestantes, mas também alimenta uma ironia corrente na capital: a de que os deputados são reféns, mantidos em cativeiro.
A reportagem é de Andrei Netto e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-02-2012.
O curioso é que foi assim que diversos parlamentares entrevistados pelo Estado na última semana descreveram a situação em que se encontram. De um lado, afirmam, enfrentam uma pressão permanente de líderes políticos da União Europeia (UE) e de técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI) para que aprovem sem emendas as medidas de austeridade, que já totalizam € 160 bilhões em dois anos. De outro, sentem-se humilhados pelas vaias, pelo descrédito e pelo desprezo com que são vistos pela opinião pública.