Comentários/opinião
Recorro novamente às matérias da Carta Maior para dar suporte às minhas postagens sobre a importância do que ocorre na Europa neste momento, com relação a indícios de mudanças nos rumos e caminhos do capitalismo mundial. Dessa forma, é mais fácil e rápido do que traduzir e reproduzir as notícias de veículos internacionais mais independentes, isentos e merecedores de crédito. Como, aliás, algumas vezes como já tenho feito.
Tudo isso porque os noticiários da nossa mídia tupiniquim não dão destaque ao que está realmente ocorrendo por lá. Por que isso? Para não alarmar os gansos aqui na província e manter o grande público à margem de processos existentes que indicam fortes ameaças ao sistema podre e em crise. Sistema que eles defendem em causa própria, porque são sustentados por ele e, portanto, são seus caudatários.
Tal como outros analistas, tenho chamado o momento político-econômico europeu atual de Europa em chamas, porque é essa a imagem que me salta aos olhos.
Se não, vejamos. Na França, está consolidada a vitória dos socialistas; nas eleições proporcionais na Grécia emergem pequenos partidos radicais, tanto da esquerda como da direita, com a derrota dos lambe-botas do comando conservador da Merkel e do Sarkozy; na Espanha há uma reprovação ao governo conservador e ocorre uma feroz disputa nas eleições municipais; na Inglaterra também há um confronto muito sério com o primeiro ministro Cameron, no processo eleitoral municipal. E assim por diante.
O escrutínio da austeridade
Blog das frases e Carta Maior, 06-05-2012
Se alguém passou distraído por três décadas de domínio neoliberal, os últimos quatro anos ofereceram a oportunidade ímpar de acesso a um compacto eletrizante com as melhores (piores?) cenas do que é capaz a convergência entre finanças desreguladas e austeridade suicida. A vítima desse condensado pedagógico é o corpo social europeu mutilado por governantes armados do firme propósito de privilegiar bancos e credores, ao mesmo tempo em que sacrificam direitos, leis trabalhistas, serviços e investimentos públicos.
As cenas finais dessa imolação tangida pelo chicote germânico de Angela Merkel mostram uma montanha desordenada de escombros sociais e políticos arrematada por 17 milhões de desempregados - recorde europeu no pós-guerra. O conjunto faz da UE hoje a sigla tenebrosa de uma empresa demolidora que devasta a mais sólida rede de conquistas da civilização imposta ao capitalismo pela luta progressista dos últimos 60 anos: o hoje esquelético Estado do Bem Estar Social europeu.
Sob o pó desse desmonte dois países vão às urnas neste domingo no escrutínio da austeridade suicida. São decisões locais, mas de alcance mundial: podem ampliar ainda mais a margem de manobra ideológica e política rumo a novo ciclo histórico. O que se joga nas urnas presidenciais francesas e na Grécia - que renova 160 cadeiras de seu parlamento também neste seis de maio - é o passo seguinte da maior crise do capitalismo desde 1929. E isso não tanto pelas alternativas difusas ao repto de uma direita que dobrou a aposta em direção aos icebergs apesar do oceano coalhado de corpos ao seu redor. Acima de tudo, uma derrota de Sarkozy e dos kamizazes gregos - perdendo a atual maioria - enviará uma mensagem encorajadora ao mundo, sobretudo aos governantes progressistas e às forças democráticas: não basta mais lutar a guerra do dia anterior; a denúncia e a execração do credo mercadista estão consolidadas nas urnas.
Trata-se agora, na Europa como no Brasil e no resto do mundo de acelerar a construção das alternativas consequentes ao modelo que naufraga. Caso contrário, há o risco de se morrer na praia tragado pelo vácuo do afundamento conservador. Essa, felizmente, parece ser a percepção bem-vinda do governo Dilma, que registrou um importante salto político esta semana. Com intervalo de poucos dias, Dilma emparedou os bancos na esfera dos juros, removeu as amarras da poupança e promoveu um desagravo histórico a personagens e agendas progressistas que, a seu tempo e a seu modo, impulsionaram a luta pelo desenvolvimento brasileiro.
Postado por Saul Leblon – Blog das frases