POIS É...
APÓS GRANDE RECESSO NAS POSTAGENS NESTE BLOG, RETORNO COM A ESPERANÇA DE PODER DAR EFETIVIDADE A ESSE PROPÓSITO.
VEREMOS O QUE OCORRERÁ, NA SEQUÊNCIA.
Comentários/opinião
Bela análise. Concordo integralmente.
O quê fazer? Não sei. Só sei que alguém ou algo deve morrer. O sistema
capitalista, por exemplo. A ganância desenfreada é outro exemplo, decorrente do
anterior e/ou acelerador do processo. Na verdade, morrerão juntos,
abraçadinhos, como convém à nossa libertação e à sobrevivência do planeta.
A idolatria do
PIB – IHU Notícias 21-07-2014
"Em
vez de concentrar esforços na melhoria do transporte coletivo, optou-se por
medidas de estímulo à venda de automóveis: isenções tributárias, crédito farto
e gasolina subsidiada. Entre 2003 e 2013, a frota de carros particulares passou
de 23,6 milhões para 43,4 milhões de veículos", escreve Eduardo Giannetti, economista, em artigo publicado pelo
jornal Folha de S. Paulo, 18-07-2014.
Segundo o
economista, "a idolatria do PIB tem causado
graves prejuízos ao bem-estar humano".
Eis
o artigo.
O PIB é uma invenção recente. A ideia de medir a
variação do valor monetário dos bens e serviços produzidos a cada ano surgiu no
período entre guerras, mas foi só nos anos 50 que os órgãos oficiais passaram a
publicar dados de PIBpara os diferentes países. Adam Smith, Ricardo, Marx e Mill jamais
foram instados a prever o PIB do ano ou
trimestre seguintes.
De lá para
cá, o culto do PIB como métrica de sucesso ou
fracasso das nações virou uma espécie de religião do nosso tempo. O crescimento
é o objetivo supremo em nome do qual governos são eleitos ou rejeitados nas
urnas e um antropólogo marciano poderia até imaginar que a sigla PIB nomeia a nossa divindade-mor na vida pública
enquanto o consumo dá sentido à existência na esfera privada.
Além do
passivo ambiental, a idolatria do PIB tem causado
graves prejuízos ao bem-estar humano. Dois exemplos recentes ilustram isso.
Uma
pesquisa pioneira, publicada no periódico "Proceedings of the
National Academy of Sciences" em 2013, comparou populações
sujeitas a diferentes níveis de poluição do ar nas regiões norte e sul da China e
avaliou o seu impacto de longo prazo (décadas) sobre a saúde (doenças
cardiovasculares e câncer de pulmão).
O estudo mostra que uma elevação de 100 microgramas de matéria particulada por
metro cúbico de ar corresponde a uma redução de três anos na expectativa média
de vida ao nascer. Como a diferença entre o norte e o sul da China é de 185
microgramas por metro cúbico, isso significou uma perda de cinco anos e meio de
vida per capita para os habitantes do norte em relação ao sul.
Some-se a isso o fato de que 10% da terra cultivável na China está contaminada por poluentes químicos e
metais pesados, e que metade da água suprida nas cidades é imprópria para
banho, e se verá que o espetáculo do PIBchinês,
como um Otelo sem Iago, oculta
um elemento crucial da trama.
No Brasil, o afã de acelerar o crescimento no curto prazo
levou o governo a tomar um atalho. Em vez de concentrar esforços na melhoria do transporte coletivo, optou-se por medidas de estímulo à
venda de automóveis: isenções tributárias, crédito farto e gasolina subsidiada.
Entre 2003 e 2013, a frota de carros particulares passou de 23,6 milhões para
43,4 milhões de veículos.
O resultado do erro pode ser medido em tempo de vida. Um cidadão que gaste três
horas por dia em média para ir e vir do seu local de trabalho ou estudo passará
cerca de quatro anos e meio da sua vida encalacrado no inferno urbano das
nossas metrópoles. O PIB silencia,
mas o bem-estar acusa.
Pior que crescer
pouco ou crescer mal, só mesmo uma combinação judiciosa das duas coisas. E não
é que o Brasil tem conseguido!