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sábado, 21 de janeiro de 2012

A demonização da classe trabalhadora britânica

Comentário/opinião
Como sabemos, o neoliberalismo surgiu, basicamente, na Inglaterra com Margareth Thatcher, continuou no mesmo diapasão com John Major e começou a “fazer água”. Ai, os “trabalhistas” assumiram com Tony Blair, que pensou inventar a roda com a tal da 3ª. Via, uma coisa amorfa que nem com o Well Fare State se parecia. Como era óbvio, deu em nada. Mas muitos dos nossos neoliberais tucanos andaram correndo atrás, assim como alguns “esquerdinhas” não muito convictos. O que, aliás, tem bastante por aí. E cada vez mais.
Agora, Mr (ou Sir?) Cameron, depois de ter empenhado até as calças para salvar o sistema financeiro britânico e coadjuvado pela direita reacionária, se volta para colocar a culpa de tudo nos trabalhadores, em especial os “chavs”. Ou seja, na corda mais fraca, os não britânicos, como descreve a matéria a seguir.
Mais um sinal dos tempos atuais!
A publicação é da Carta Maior, 21-01-2012.
As três décadas de neoliberalismo, inauguradas por Margaret Thatcher com uma drástica desindustrialização nos anos 80, marcaram o triunfo de um individualismo que afundou o sistema de valores solidários da classe trabalhadora. Em 1979 havia sete milhões de operários com um forte peso de mineiros, portuários e do setor automotivo. Hoje há dois milhões e meio, as minas desapareceram e só a empresa automotiva, em mãos estrangeiras, está crescendo. Neste vazio de identidade, de uma classe operária em retirada, surgem os “chavs”. O artigo é de Marcelo Justo.
Marcelo Justo - Direto de Londres
Londres - A demonização da classe trabalhadora britânica tem uma sigla indecifrável: “Chavs”. Ninguém sabe o que significa, mas em páginas web, em programas de televisão e em análises midiáticas populares ou “sérias”, serve para estigmatizar os jovens que vivem em moradias municipais e têm um tipo específico de sotaque e aspecto físico. “Na realidade é uma maneira oblíqua de definir o conjunto da classe trabalhadora e responsabilizar os pobres de ser pobres”, escreve Owem Jones, autor de “Chavs”, um livro chave sobre o tema. Em meio à atual crise, a justificativa cai como anel no dedo. A pobreza não se deve aos problemas da economia, mas às falhas do próprio indivíduo ou de sua família: aos lares deslocados, à falta de ambição ou inteligência. (grifo nosso).

Contra 'mercado', governo atrai 276 mil 'minirrentistas' em 10 anos

Comentário/opinião
Bem, já que estamos fundados – e afundados – num sistema capitalista, para o Brasil isso já é um avanço. Na verdade, é um pequeno avanço porque continuamos afundados no rentismo. Trata-se de um rentismo tupiniquim, mas é um rentismo, de qualquer modo. Resta, porém, o consolo de que os atravessadores e usurários ficam de fora.
Publicado na Carta Maior, 21-01-2012
Essa é a clientela de pessoas comuns que compram título do governo sem passar por bancos e fundos. Como estrangeiro e fundo de pensão, pequeno investidor é aposta do Tesouro para ampliar base credora e quebrar parte da força do 'mercado' na imposição do juro. Cidadãos têm 17% da dívida da Irlanda, cuja crise seria ainda pior sem eles. No Brasil, fatia é irrisória: 0,4%.
André Barrocal
BRASÍLIA – O número de pequenos rentistas que ganham dinheiro fazendo empréstimos de baixo valor ao Estado brasileiro, por meio da compra de títulos da dívida pública diretamente do governo, sem intermediação do “mercado”, cresceu 28% no primeiro ano da presidente Dilma Rousseff. Em 2011, 61 mil pessoas entraram no programa Tesouro Direto, pelo qual se negocia com o Tesouro Nacional via Internet, sem precisar pagar pedágio a bancos e fundos de investimento que operam para terceiros.

“A causa fundamental da crise financeira é a lógica do próprio capitalismo”

Comentário/opinião
Estou de pleno acordo com o padre, professor e sociólogo François Houtart, candidato a Nobel da Paz. Tenho somente dois pequenos reparos a fazer.
1. Entre a opinião da FAO (uma instituição do capitalismo) e as de muitos especialistas independentes e isentos, fico com estes, com seus dados e seus estudos. Ou seja, que o planeta está realmente sendo exaurido e não resistirá a um acréscimo populacional sob os princípios vigentes e, muito menos, a um projeto de elevação do desenvolvimento do mundo a níveis sequer próximos daqueles dos países centrais do capitalismo.
2. O professor faz um belo e ótimo diagnóstico, mas não avança um esboço de modelo objetivo para a superação e a substituição do sistema atual. Somente destaca algumas experiências localizadas de tentativas de soluções alternativas. O que também é um fato. Todavia, faltam – não apenas a ele, mas a todos os analistas de esquerda que conheço – propostas concretas de um novo sistema, substitutivo ao atual. E isso porque meias-solas já não são mais possíveis.
Falo isso - com o peito bem aberto para receber pancadas... - porque tenho uma proposta objetiva para tal. Está ainda, como esboço e rascunho, no meu livro Capitalismo terminal. Todavia, entendo que, pelo menos, é melhor do que nada...
A crise que vivemos é mais profunda e bastante diferente da que conhecemos nos anos 1929 e 1930, afirma o professor François Houtart. Segundo ele, sua dimensão evidentemente está vinculada ao fenômeno da globalização. Porém, ressalta que a atual crise não é nova. Não é a primeira crise do sistema financeiro e muitos dizem que não será a última. Houtart acredita que o mais importante, e isso é diferente dos anos 1929 e 1930, é essa combinação com vários tipos de crises. E afirma: a causa fundamental da crise financeira é a lógica do próprio capitalismo. “A crise financeira é devida à lógica do capital, que tenta buscar mais lucros para acumular capital, que é, dentro dessa teoria, o motor da economia”.
Houtart fala sobre as várias facetas desta crise, inclusive a crise alimentar, a qual, segundo ele, faz parte da mesma lógica. “A combinação da crise econômica com a alimentar é algo novo. Porém, são vinculadas”.
A entrevista é de Nilton Viana e publicada pelo jornal Brasil de Fato, 20-01-2012.
François Houtart é sociólogo e professor da Universidade Católica de Louvain (Bélgica), diretor do Centro Tricontinental, entidade que desenvolve trabalho na Ásia, África e América Latina.