Comentários/opinião
Creio tratar-se aqui de uma inversão do dito popular "atirar no que vê e acertar no que não vê" para "atirar no que não vê e acertar no que vê", ou seja, uma inversão de objetivos. O entrevistado usa referências do passado – Balbina e Tucuruí, realmente duas aberrações ambientais além de outros objetivos equivocados – como argumento da sua tese. Ultimamente se tem dispensado muitos cuidados ambientais nas construções de barragens, salvo alguns poucos erros intencionais que ainda persistem em razão de interesses subalternos.
É de se perguntar se existem dados concretos de emissão de metano realmente produzido por unidades de área e de tempo – p.ex. por km2 e por ano - nos lagos das hidrelétricas brasileiras. Itaipu, com os recursos que tem, poderia calcular isso, caso ainda não o tenha feito.
Na linha de argumentação do cientista, teríamos de acusar os egípcios de cometerem um gravíssimo crime ambiental contra a humanidade, desde há muitos milênios, por não terem canalizado o Rio Nilo e usarem suas cheias para sua agricultura e consequente sobrevivência. Seria também recomendável esgotar todos os lagos de água doce do mundo, como fontes de emissão de metano.
Quando vejo algum pesquisador estrangeiro na Amazônia, independentemente de suas qualificações, dando palpites sem dar-lhes consistência, fico pensando a serviço de quem ele se encontra. É que a Ciência nem sempre é isenta.
Propagada aos quatro ventos como fonte de energia limpa, as hidrelétricas também são responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, e a omissão deste dado prejudica as tentativas de recuperação do clima, destaca o biólogo e pesquisador do Inpa.
Confira a entrevista.
Por estes dias, o mundo volta seus olhares para o Rio de Janeiro e para tudo o que está sendo discutido na Rio+20 e na Cúpula dos Povos, sendo um dos temas de destaque a questão energética. Aqui no Brasil, temos a cultura de grandes obras envolvendo a construção de hidrelétricas, afinal, esta sempre foi considerada uma matriz energética limpa e sustentável. No entanto, este não é um lugar comum. Será que a geração de energia por hidrelétricas pode ser considerada realmente “verde”? Na opinião do professor e pesquisador norte-americano Philip Fearnside, a resposta é negativa. “As hidrelétricas geram um grande impacto, sobretudo nos primeiros anos, porque ao formar o reservatório os resíduos das plantas se decompõem e geram logo metano. No entanto, a madeira das árvores, por outro lado, decompõe-se de forma lenta e não é uma grande fonte de metano. Depois, a emissão de metano diminui, mas continua, porque várias fontes de carbono são transformadas em metano e vão durar para sempre. Como a água sobe e desce de nível no lago, quando ela está baixa, forma-se um lamaçal em torno do lago, onde crescem ervas daninhas, e quando o nível da água aumenta, estas ervas ficam no fundo do lago, onde não há oxigênio, e elas viram metano, causando um impacto permanente. O problema é que demora muitos anos para pagar o passivo ambiental gerado por essas hidrelétricas. Então, nesse caso, é difícil dizer que se trata de uma energia verde ou limpa”, defende, na entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line. Philip aponta que “a área que será inundada para a construção de Belo Monte vai gerar uma quantidade enorme de emissões, e demorará 41 anos para pagar o custo ambiental desta hidrelétrica. Obviamente, essas questões não entraram no planejamento ambiental”.
Philip Fearnside (foto) é graduado em Biologia pelo Colorado College, nos Estados Unidos, e especializou-se em Sistemas de Informações Geográficas pela USP. Possui mestrado em Zoologia e doutorado em Ciências Biológicas pela University of Michigan, nos Estados Unidos. Atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas e pesquisador do CNPq e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa.
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