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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Os trabalhadores que pararam o progresso


Comentários/opinião
As três matérias plotadas a seguir foram publicadas pela Agência Pública e divulgadas pelo IHU Notícias em 21-12-2012. Estou batizando o conjunto como a Trilogia do Madeira, o qual serve para muitas reflexões que, evidentemente, não cabem neste veículo de divulgação sintética das (des)conjunturas nacionais e do mundo. Mas dá o que pensar.
Entre outras reflexões, podemos colocar questões tais como: qual será, mesmo, o preço do progresso? Quantas vidas por R$ milhão podem ser sacrificadas? Na mesma unidade, quantas meninas devem ser prostituídas? Quantas famílias devem perder seu ganha-pão cotidiano de tantas gerações? Quantas árvores devem ser sacrificadas? Quantos peixes – “bagres”, no dizer de Lula – devem morrer? Quantos peixes devem deixar de nascer pela supressão das piracemas? Quantos locais históricos devem desaparecer? Quantas áreas fertilizadas nas enchentes - que eram naturais - devem ser submersas? Quantos Mwh devem deixar de ser consumidos na região que os produz para serem levados por milhares de km para locais onde o aumento do “progresso” já não se faz necessário? Quantos R$ bilhões em impostos devem ser gerados pela famigerada Lei Kandir nos locais de consumo e não nos de produção de energia?
Quantas perguntas mais, pertinentes ou “impertinentes” podem ser feitas? Mas acho que já chega.  O/a leitor/a pode adicionar as suas próprias.
Barbaridade!
Os trabalhadores que pararam o progresso
Já era quase meio-dia quando o goiano Francisco Martins Corrêa chamou o amigo e conterrâneo Paulo Henrique do Nascimento para almoçar. Os dois trabalhavam desde as seis da manhã derrubando árvores em área a ser alagada pela usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia.
O sol estava escaldante, e Francisco tinha fome, queria parar. Paulo recebia um bônus ao final do mês por cada hectare desmatado, queria continuar. “Só mais um”, disse. Francisco insistiu: “Para com isso, Paulinho. Bora lá comer”. Mas não conseguiu dissuadir o amigo.
A caminho do refeitório, Francisco ouviu a árvore tombar seguida de um som estranho: a motosserra pulava sozinha no chão. Gritou o nome do amigo. Nada. Voltou correndo e encontrou Paulinho no chão, com a árvore caída sobre o pescoço. Com o coração disparado, Francisco usou a motosserra do amigo para cortar a árvore que o esmagava. Serrou de um lado, do outro e tirou o tronco de cima do corpo. “Já tava morto, a árvore quebrou o espinhaço dele”, lembra, ainda abalado.
A reportagem é de Ana Aranha e publicada no portal Agência Pública, 04-12-2012.
Paulo morreu em setembro. Foi a quinta morte este ano em decorrência das obras das usinas de Jirau Santo Antônio. As duas hidrelétricas em construção no rio Madeira são o carro-chefe do governo Dilma Rousseff para o aumento da geração de energia no país.
Embora o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) faça fiscalizações sistemáticas, as medidas de segurança são atropeladas pela pressa em terminar logo as obras. É essa a percepção do auditor Juscelino José Santos, da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Rondônia. Em ação fiscal logo depois do acidente que matou Paulo, a primeira ação da superintendência foi determinar o fim do sistema de pagamento por produtividade. “Essa é uma atividade cansativa, que exige grande aporte calórico. Ao se preocupar em produzir, o trabalhador se esquece de comer, beber, ignora a câimbra”, diz o auditor.
Além da construção da barragem no rio, o desmatamento é um dos setores que mais exige esforço físico e onde há mais acidentes. A Energia Sustentável do Brasil, consórcio de Jirau, terceiriza essas atividades a diversas empresas, entre elas a Fox Minas Construtora, que contratou Francisco Paulo.

Um comentário:

  1. Caro Soares,
    Obrigado pela insistência em nos fazer pensar; ou melhor "refletir sobre nossa realidade".
    A questão do desenvolvimento é complexa.
    Essa corrida pelo crescimento econômico acelerado é loucura, é suicídio. Mas ainda é o caminho preferido pelos detentores do poder econômico pois é a única forma de sobrevivência do capitalismo.
    Tá na hora de pensarmos seriamente em "decrescimento" econômico e voltarmos a pensar em socialismo.
    Abs do amigo e admirador Paulo Bubach"
    Nota: publicado a pedido
    p.bubach@uol.com.br

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