Comentários/opinião
Veja-se esta matéria e a
anterior. Elas se complementam. Todavia não representam o total das situações
absurdas em termos sociais, infraestruturais, ambientais, econômicos e
financeiros que estão espalhadas por este “nosso” Brasil afora.
Quanta barbaridade! Até
quando?!?
Vidas em trânsito
“Quando cheguei aqui, achei triste,
chorava toda noite. Essa poeira, as ruas sem asfalto. Eu trabalhava lavando
louça, não lembro como fui pela primeira vez. Ele era estranho, levou pó pra
cheirar no quarto, queria beijar na boca, transar de novo. Depois chorei. Se
fosse na minha cidade, ia ter vergonha, nojo. Aqui é normal, quase todas as
meninas fazem. Eu mudei, não sou a mesma mulher.”
Micheli (nome fictício) tem 20 anos. Há quatro meses, deixou sua cidade natal,
no Pará, e desembarcou na vila de Jaci Paraná,
distrito de Porto Velho, Rondônia. Encontrou trabalho e morada em um brega,
nome local para bordel, onde
começou ajudando na limpeza. Em duas semanas estava se prostituindo, como
“quase todas as meninas”.
A reportagem é de Ana Aranha e publicada pela Agência Pública, 30-11-2012.
É impossível andar pelas ruas de Jaci
e não topar com um brega. São bares abertos, às vezes com mesinhas de plástico
espalhadas pela calçada. À noite, a música toca no último volume. Durante o
dia, as mulheres que os frequentam andam pela vila de shorts curtos e barriga
de fora.
Elas estão em Jaci para prestar
serviço aos milhares de homens que entram e saem da vila em turnos, às 7 e às
17 horas. São os horários de entrada e saída da construção da usina
hidrelétrica de Jirau, uma das maiores obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) em curso no país. A usina cresce em torno
de uma barragem no rio Madeira, no
meio da floresta amazônica. A vila de Jaci é o núcleo urbano mais próximo, a 20
quilômetros.
A obra chegou a ter 25 mil
funcionários no seu pico, mais que o dobro do que era previsto no plano
inicial. Alguns trabalhadores se instalaram na vila, outros passam os dias de
folga lá. O Ministério Público de Rondônia estima que a vila saltou de 4 mil
para cerca de 16 mil habitantes desde 2009, quando a usina de Jirau começou a ser construída. Os trabalhadores
carregam sotaques do Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil. Alguns
ainda não dominam o português, como os haitianos e bolivianos.
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