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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um rio em fúria


Comentários/opinião
Trata-se de uma das mais claras mortes anunciadas. E previsíveis; para quem quisesse prever, é claro.
Para início de entendimento da questão, sugiro “começar pelo começo...” E desconsiderar essa aparente redundância... Ou seja, começar pela causa-mãe ou causa-máter: a ganância desenfreada e sem limites. Ela precede qualquer questão econômica, técnica, social, ambiental etc., as quais são meras decorrências e consequências.
Para escondê-la (a ganância) e/ou justificá-la, vêm os chavões: a necessidade do “desenvolvimento” (sem dizer por que, para que, a quem interessa e quem se apropriará dele, ou seja, os já desenvolvidos); os “interesses nacionais” (e sabemos muito bem de que “nacionais” se trata); a obediência às “normas jurídicas” (e sabemos como, por que, por quem e para quem foram feitas); E assim por diante, para não ser exaustivo.
Agora, o leite está derramado e não tem como devolvê-lo ao úbere da vaca. E, portanto, como sempre, só nos resta chorar na cama, que é um lugar quente. Do contrário, teria de existir o fuzilamento dos vendilhões da Pátria, coisa que os tempos “modernos”, não o permitem. Que horror, ter coragem de dizer uma coisa absurda dessas... Será, mesmo?
Um rio em fúria
Dois dias antes do início dos testes na primeira turbina da hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, o telefone tocou na casa da pescadora Maria Iêsa Reis Lima. “Vai começar”, avisou o amigo que trabalhava na construção da usina. Iêsa sentou na varanda e se pôs a observar as águas, esperando o que sabia ser uma mudança sem volta. “O rio Madeira tem um jeito perigoso, exige respeito. Os engenheiros dizem que têm toda a tecnologia, mas nada controla a reação desse rio.”
Semanas depois, no início de 2012, as águas que banham a capital Porto Velho começaram a ficar agitadas. As ondas cresciam a cada dia, cavando a margem e arrancando árvores. O deque do porto municipal se rompeu. O rio alcançou as casas, até que a primeira delas ruiu junto com o barranco para dentro das águas.
A reportagem é de Ana Aranha e publicada pela Agência Pública, 30-11-2012. Divulgada pelo IHU Notícias de 21-12-2012.
O prognóstico de Iêsa estava certo. O que ela não podia imaginar era a rapidez com que a resposta do rio à abertura das comportas alteraria o curso da sua vida, do seu bairro e da história de Porto Velho. As ondas atacaram o bairro Triângulo, primeiro a se formar na capital. O bairro leva esse nome por ser o local onde o trem da estrada de ferro Madeira-Mamoré fazia a curva para desabastecer. A casa de Iêsa ficava entre a margem do Madeira e os trilhos abandonados. Cerca de sete quilômetros abaixo da usina.
O rio engoliu ainda o marco Rondon, obelisco histórico mais antigo que o próprio estado. Construído em 1911 pela equipe do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista que rasgou a floresta para ligar a primeira linha telegráfica a conectar a Amazônia. Quando as ondas alcançaram o marco, alertas circularam em abundância por todos os meios de comunicação a que o mundo têm acesso. Mas a empresa Santo Antônio Energia, responsável pela usina, negava relação com o problema. Em duas semanas, as águas cavaram a base do obelisco e o arrastaram para o fundo do rio. Depois que ficou comprovada a responsabilidade da usina, a empresa tentou resgatar o obelisco, mas apenas dois blocos foram recuperados.

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