Comentário/opinião
Estou de pleno acordo com o padre, professor e sociólogo François Houtart, candidato a Nobel da Paz. Tenho somente dois pequenos reparos a fazer.
1. Entre a opinião da FAO (uma instituição do capitalismo) e as de muitos especialistas independentes e isentos, fico com estes, com seus dados e seus estudos. Ou seja, que o planeta está realmente sendo exaurido e não resistirá a um acréscimo populacional sob os princípios vigentes e, muito menos, a um projeto de elevação do desenvolvimento do mundo a níveis sequer próximos daqueles dos países centrais do capitalismo.
2. O professor faz um belo e ótimo diagnóstico, mas não avança um esboço de modelo objetivo para a superação e a substituição do sistema atual. Somente destaca algumas experiências localizadas de tentativas de soluções alternativas. O que também é um fato. Todavia, faltam – não apenas a ele, mas a todos os analistas de esquerda que conheço – propostas concretas de um novo sistema, substitutivo ao atual. E isso porque meias-solas já não são mais possíveis.
Falo isso - com o peito bem aberto para receber pancadas... - porque tenho uma proposta objetiva para tal. Está ainda, como esboço e rascunho, no meu livro Capitalismo terminal. Todavia, entendo que, pelo menos, é melhor do que nada...
A crise que vivemos é mais profunda e bastante diferente da que conhecemos nos anos 1929 e 1930, afirma o professor François Houtart. Segundo ele, sua dimensão evidentemente está vinculada ao fenômeno da globalização. Porém, ressalta que a atual crise não é nova. Não é a primeira crise do sistema financeiro e muitos dizem que não será a última. Houtart acredita que o mais importante, e isso é diferente dos anos 1929 e 1930, é essa combinação com vários tipos de crises. E afirma: a causa fundamental da crise financeira é a lógica do próprio capitalismo. “A crise financeira é devida à lógica do capital, que tenta buscar mais lucros para acumular capital, que é, dentro dessa teoria, o motor da economia”.
Houtart fala sobre as várias facetas desta crise, inclusive a crise alimentar, a qual, segundo ele, faz parte da mesma lógica. “A combinação da crise econômica com a alimentar é algo novo. Porém, são vinculadas”.
A entrevista é de Nilton Viana e publicada pelo jornal Brasil de Fato, 20-01-2012.
François Houtart é sociólogo e professor da Universidade Católica de Louvain (Bélgica), diretor do Centro Tricontinental, entidade que desenvolve trabalho na Ásia, África e América Latina.
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