Comentários/opinião
Vejam que as dicotomias continuam fortes no
país, das quais tenho falado seguidamente, nas situações que denomino como Pontos
e Contrapontos. No caso por um lado,
são políticas governamentais que vêm cada vez menos realizando assentamentos no
campo; por outro, são as pessoas que começam a tomar iniciativas próprias de
retorno ao seu antigo habitat. Aliás, de onde não deviam ter saído.
A maior razão não deve estar nos incentivos
para tal, porque faltam incentivos. Deve ser o acúmulo de desilusões com o
sonho de oportunidades na cidade grande, bem como o crescimento de todas as
mazelas sociais, da péssima qualidade de vida urbana, das inseguranças de todo
tipo.
Espero que seja um fenômeno que se incremente
e que, mesmo por si só, se solidifique e se torne forte e exitoso.
Publicação do IHU Notícias de hoje, 17-11-2012
Filhos e netos de sem-terra voltam a morar no campo
Cleuza Terezinha Santos, 53, já
estava acostumada a viver sozinha, apenas com o neto adolescente que criou
desde criança, na Fazenda da Barra, em Ribeirão
Preto.
Os cinco filhos permaneceram na cidade, em Franca.
Nos últimos dois anos, porém, a assentada ganhou a companhia de dois dos filhos
-um deles até trouxe junto a mulher e um dos filhos.
A reportagem é de Juliana
Coissi e publicada pelo jornal Folha
de S. Paulo, 17-11-2012.
Além dessas companhias, Cleuza pode ainda receber sua caçula, que quer trocar
a vida urbana pelo campo.
Nos últimos anos, assentamentos da região de Ribeirão
Preto, onde era comum ver só um casal mais velho no lote,
começaram a receber filhos e netos desses assentados, junto com mulheres e
crianças.
Por um lado, o alto custo de vida nas cidades ajudou a
"expulsar" esses jovens do meio urbano. Por outro, os assentamentos
ganharam mais infraestrutura com energia elétrica e poços.
A produção de hortaliças e outras culturas deixou de
engatinhar e em alguns assentamentos já encontram local para vender a colheita.
O cenário da região não é isolado: a volta das novas
gerações tem ocorrido em assentamentos por todo o país, segundo o docente da Unesp Bernardo Mançano Fernandes.
Só no Mário Lago, um dos assentamentos da Barra, já há
casos de "puxadinhos" em lotes -cada um com cerca de 16 mil m²- onde
moram três, até quatro famílias, todos parentes do titular da área.
"O lote até para uma família é apertado, mas se não
tem jeito de viver na cidade, eles vêm para cá", disse Vitor
Donizeti Ribeiro, membro da coordenação do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O armador de ferragem Eliseu Vieira de Lima decidiu
há dois anos se mudar com a mulher e os dois filhos para o lote do sogro.
"Vou vender minha casa na cidade para comprar um trator. Um dia quero
viver só da lavoura."
Para Marcos Praxedes, líder de outro assentamento, o Santo
Dias, com 110 lotes, o campo está mais atrativo.
Isso porque há convênios com prefeituras para vender
verduras para a merenda escolar, além de programas para levar filhos de assentados
para a universidade.
Em Araraquara, os assentamentos Monte Alegre e Bela
Vista do Chibarro repetem o fenômeno. Silvani Silva, 36, chegou na adolescência a
acampar com o pai no Bela Vista, mas voltou para estudar e trabalhar na cidade.
Casada e com filhos, fez as contas e voltou em 2008 para o
lote do pai no Bela Vista.
"Na cidade, o aluguel não sai por menos de R$ 400. No
campo, se não tenho nada na despensa, vou no quintal e apanho uma goiaba",
disse.
Movimento se repete no país,
afirma docente
O retorno das novas gerações para os
assentamentos ocorre em todo o país, segundo Bernardo Fernandes, professor da
Unesp de Presidente Prudente.
"Quando há um conjunto de políticas públicas e falta
mão de obra no assentamento, o genro e a nora voltam ao campo para
ajudar."
Também ocorre o contrário, diz ele: se o assentamento vive
crise econômica, a mão de obra jovem migra para a cidade.
Além de ajudar na lavoura, o jovem traz novas ideias,
afirma Vera
Lúcia Botta Ferrante, docente aposentada da Unesp de
Araraquara. "No assentamento Bela Vista, tivemos um rapaz que queria
montar uma gráfica para fazer os rótulos dos pães e bolos produzidos lá."
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